Os símiles constituem um dos recursos mais antigos e persistentes da literatura, atravessando gêneros, épocas e culturas. Mais do que um ornamento estilístico, eles funcionam como pontes cognitivas entre o mundo da experiência sensível e o universo da narrativa, oferecendo ao leitor ou ouvinte uma via de acesso àquilo que, por vezes, não pode ser expresso de maneira direta. Na Ilíada, de Homero, os símiles aparecem em profusão e desempenham papel central na construção da atmosfera épica: são eles que traduzem a violência da guerra, a força dos heróis e a inevitabilidade do destino em imagens extraídas da natureza ou do cotidiano do mundo grego arcaico. Esse uso recorrente dos símiles, contudo, não se limita ao aspecto estético. Ele revela algo mais profundo sobre a forma de pensar de uma sociedade que, no chamado Período das Trevas, ainda se apoiava fortemente na oralidade e na experiência concreta para dar forma a ideias abstratas. Nesse sentido, a análise dos símil...
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