Até hoje ninguém definiu a poesia (nem mesmo a literatura). O que há são definições, no plural. Porque sempre que se experimenta um momento poética, toma-se-o como metáfora para o que é poesia. Por exemplo, ontem mesmo escrevi:
Poesia é olhar pra o céu
E ver nas nuvens
A ilha britânica
Enquanto toca
Belle and Sebastian
No aparelho de som
O momento inspirador desse poeminha foi singular e — permitam-me o pleonasmo — momentâneo como as nuvens. Mas por carregar em si serendipidade e coincidência significativa, tem a ventura de guardar no envelope da poesia a efemeridade. E talvez esteja aí a definição de poesia, que compassa a todas as outras definições vindas e vindouras: poesia é guardar efemeridades. E dentre todos os artifícios humanos tentativos de conseguir a eternidade, a poesia é a única invenção bem-sucedida. Não porque efetivamente alcança a perpetuidade: pois nada o é. Mas por a poesia ser também efêmera. Por acontecer num átimo, simultâneo ao momentâneo, a poesia se identifica com ele, simbiotiza-se a ele. E se vem e vai junto ao momento, o deslocamento relativo dos dois — poesia e momento — é nulo: os dois estão sempre no mesmo canto e no mesmo tempo: daí a sensação de eternidade.
Em uma palavra: só existe vida eterna na poesia.
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