A pergunta "por que estamos aqui?" é bastante antiga, não é? Os antigos gregos são bem conhecidos por suas filosofias sobre o sentido da vida e sobre o que torna uma vida feliz. Fico pensando quais civilizações, além dos gregos antigos, também se colocaram essa questão. Afinal, trata-se de uma indagação universal e atemporal, não é? Ela até aparece no filme mais recente da Barbie (2023), ilustrada na canção What Was I Made For, de Billie Eilish. E justamente hoje a ouvi em uma música de outra Billie — Billie Marten: Drop Cherries, em que ela não faz a pergunta diretamente, mas afirma: "I don't know what I'm here for."
Na canção de Billie Eilish, há uma tentativa de resposta, no seguinte verso: "I'm not real, just something you paid for". Isso sugere que — não é para o consumo, o ditame máximo do capitalismo, que fomos feitos. Dessa forma, podemos chegar a saber para o que não fomos feitos. Contudo, a busca e a espera continuam ("Something I wait for"), e a pergunta permanece: para que fomos feitos?
Billie Marten, em Drop Cherries, arrisca uma resposta:
"To bathe in perfect color
Paint me in the red
Pages curling in the wet
There are books I've never read
Many weathers to collect
And spill over the carpet
Blood as pure as this
Fastened with a kiss".
Depois disso, ela conclui:
"Now I know what I'm here for".
O que extraio dessas letras, ricas em imagens e emoção, é que o propósito está em uma conexão íntima e sensorial com a própria vida e tudo o que ela tem a oferecer. Os versos de abertura, "To bathe in perfect color / Paint me in the red," evocam imediatamente uma sensação de imersão, de entrega a algo vívido e visceral. O vermelho, cor da paixão, do amor e do sangue, significa uma experiência bruta e sem filtros da vida. Ser pintado de vermelho é ser consumido pela plenitude do ser, é sentir profundamente e ser marcado pela vida.
Ela então canta: "Pages curling in the wet / There are books I've never read." A imagem das páginas que se curvam pela umidade remete à passagem do tempo, às marcas físicas da experiência que alteram até mesmo o que deveria ser preservado. E os livros não lidos indicam duas coisas: 1) que a felicidade está na experiência direta e vivida, em vez de na vida solitária vivida por procuração através dos livros; e 2) que os livros que permanecem não lidos são oportunidades abertas de mergulho nas profundezas de nossos pensamentos e emoções. Em uma palavra: ainda existem aspectos inexplorados da vida a serem vividos.
O verso continua: "Many weathers to collect / And spill over the carpet." Aqui, o clima torna-se uma metáfora para a variedade emocional e experiencial — alegria e tristeza, tempestade e sol, todos reunidos e acolhidos. Por sua vez, transbordar sobre o tapete implica uma abundância incontrolável, uma vida sem restrições, repleta de sentimentos e beleza.
Por fim, "Blood as pure as this / Fastened with a kiss" traz um encerramento quase sagrado. O sangue é frequentemente simbólico da própria vida, e quando dizemos “I gave my blood” queremos dizer que demos tudo o que tínhamos. Além disso, o sangue que é puro sugere que a vida é composta apenas de vida, nada além disso. Não havia nada antes e não haverá nada depois. Ademais, a vida boa é aquela em que há amor. E um beijo, íntimo e afirmativo, sela essa verdade ao próprio ser — é através do amor, de um verdadeiro pacto de sangue e de presença, que se encontra o sentido.
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