O amor e o temor
Maquiavel, n'O Príncipe, discute a dicotomia entre ser amado e ser temido, preferindo ambos, mas, se impossível, considera mais seguro ser temido do que ser amado, argumentando que o medo pode ser mais eficaz para manter o poder, pois o amor é volátil. Apesar disso, ele ressalta evitar o ódio para não perder o poder. Enquanto isso, a Bíblia aborda frequentemente o amor e o temor de Deus, destacando o amor ao próximo como uma importante lei no Novo Testamento, ao passo que no Antigo Testamento, o temor do Senhor é mencionado como o princípio da sabedoria. A mensagem central é a importância do amor a Deus e aos outros, complementada pela relevância de um respeito reverente por Deus.
Por outro lado, Freud, n'O Mal-Estar na Civilização, critica a ideia de amar o próximo, destacando a complexidade humana que dificulta manifestar esse amor de forma pura, diante dos impulsos agressivos e egoístas. Ele questiona a viabilidade desse ideal frente às tensões inerentes à natureza humana e à dinâmica social, explorando como o conflito entre indivíduo e sociedade influencia desejos e relações interpessoais.
Antes de Freud, Nietzsche, ao abordar a moralidade cristã, questionara a origem do conceito de amor ao próximo, sugerindo que ele nasce do ressentimento dos mais fracos em relação aos mais fortes. Para ele, a moralidade cristã baseada no amor ao próximo é uma inversão dos valores originais. Ele argumenta que os fracos, incapazes de impor sua vontade sobre os fortes, criaram uma moralidade que valoriza a compaixão e o amor, apresentando isso como uma virtude superior. Esse amor ao próximo, segundo Nietzsche, surgiu como uma forma de reverter a dinâmica de poder, uma estratégia do mais fraco para exercer influência sobre o mais forte, transformando a virtude da força em uma fraqueza moral. Para Nietzsche, essa moralidade resultava na negação da própria vida e na supressão do indivíduo em prol de uma moralidade que favorecia os menos aptos. Ele via essa moralidade como um obstáculo ao florescimento do potencial humano.
Enquanto Nietzsche enfatiza a interpretação da moralidade cristã como uma inversão de valores, muitos defensores veem o amor ao próximo como um princípio que transcende o ressentimento ou a fraqueza. Podemos citar Martha Nussbaum e Peter Singer, que compartilham a ideia de uma ética que valoriza a consideração pelos outros e a compaixão como base para a conduta moral.
Martha Nussbaum destaca a importância das capacidades humanas fundamentais e da empatia como parte essencial de uma vida ética. Ela argumenta que a compaixão e a consideração pelos outros não são fraquezas, mas sim expressões de nossa humanidade, sendo componentes vitais para o florescimento humano. Nussbaum defende a ideia de que a compaixão e a empatia devem estar no centro das nossas decisões morais e políticas, visando a criação de sociedades mais justas e inclusivas. Por sua vez, Peter Singer argumenta que o sofrimento dos outros, independentemente da espécie, deve ser considerado ao tomar decisões éticas.
Em suma, amor e temor não combinam, um não pode prosperar onde o outro prevalece, e se encontra aí a gênese de todo conflito, de toda dificuldade de convivência. Quando falta amor, compaixão, empatia, respeito ao outro, a única forma desse outro se afirmar no mundo, sobreviver e realizar seus propósitos de vida é através da força, da subjugação daqueles que, por falta de consideração aos direitos dele, tentam negar-lhe a existência. Portanto, nesse caso, como queriam Maquiavel e Nietzsche, é melhor ser temido, é melhor esquecer as regras morais e as leis dos homens e impor a virtude da força, seja ela bruta ou não.
Atrevo-me a dizer que essa é a causa do conflito na Palestina. Os judeus, depois de sofrerem os pogroms no Império Russo, as humilhações nos guetos europeus e o genocídio na Alemanha Nazista, buscaram refúgio nas terras Palestinas. E como foram recebidos? Até que bem pelos Otomanos, mas foram rechaçados na Revolta Árabe, na década de 1930, e na guerra de 1948. Não obstante, saíram vencedores (e "aos vencedores as batatas"). Onde estava a compaixão dos Árabes muçulmanos, pela qual hoje legitimamente tanto clamam?
Como se pode ver, entretanto, essa conjuntura onde reina a força apenas gera sofrimento para muitos e realização efêmera para poucos, que, impondo o temor, vivem temerosos de perder o poder. Como apontam Nussbaum e Singer, apenas o amor é capaz de promover o florescimento real de todos.
Por outro lado, Freud, n'O Mal-Estar na Civilização, critica a ideia de amar o próximo, destacando a complexidade humana que dificulta manifestar esse amor de forma pura, diante dos impulsos agressivos e egoístas. Ele questiona a viabilidade desse ideal frente às tensões inerentes à natureza humana e à dinâmica social, explorando como o conflito entre indivíduo e sociedade influencia desejos e relações interpessoais.
Antes de Freud, Nietzsche, ao abordar a moralidade cristã, questionara a origem do conceito de amor ao próximo, sugerindo que ele nasce do ressentimento dos mais fracos em relação aos mais fortes. Para ele, a moralidade cristã baseada no amor ao próximo é uma inversão dos valores originais. Ele argumenta que os fracos, incapazes de impor sua vontade sobre os fortes, criaram uma moralidade que valoriza a compaixão e o amor, apresentando isso como uma virtude superior. Esse amor ao próximo, segundo Nietzsche, surgiu como uma forma de reverter a dinâmica de poder, uma estratégia do mais fraco para exercer influência sobre o mais forte, transformando a virtude da força em uma fraqueza moral. Para Nietzsche, essa moralidade resultava na negação da própria vida e na supressão do indivíduo em prol de uma moralidade que favorecia os menos aptos. Ele via essa moralidade como um obstáculo ao florescimento do potencial humano.
Enquanto Nietzsche enfatiza a interpretação da moralidade cristã como uma inversão de valores, muitos defensores veem o amor ao próximo como um princípio que transcende o ressentimento ou a fraqueza. Podemos citar Martha Nussbaum e Peter Singer, que compartilham a ideia de uma ética que valoriza a consideração pelos outros e a compaixão como base para a conduta moral.
Martha Nussbaum destaca a importância das capacidades humanas fundamentais e da empatia como parte essencial de uma vida ética. Ela argumenta que a compaixão e a consideração pelos outros não são fraquezas, mas sim expressões de nossa humanidade, sendo componentes vitais para o florescimento humano. Nussbaum defende a ideia de que a compaixão e a empatia devem estar no centro das nossas decisões morais e políticas, visando a criação de sociedades mais justas e inclusivas. Por sua vez, Peter Singer argumenta que o sofrimento dos outros, independentemente da espécie, deve ser considerado ao tomar decisões éticas.
Em suma, amor e temor não combinam, um não pode prosperar onde o outro prevalece, e se encontra aí a gênese de todo conflito, de toda dificuldade de convivência. Quando falta amor, compaixão, empatia, respeito ao outro, a única forma desse outro se afirmar no mundo, sobreviver e realizar seus propósitos de vida é através da força, da subjugação daqueles que, por falta de consideração aos direitos dele, tentam negar-lhe a existência. Portanto, nesse caso, como queriam Maquiavel e Nietzsche, é melhor ser temido, é melhor esquecer as regras morais e as leis dos homens e impor a virtude da força, seja ela bruta ou não.
Atrevo-me a dizer que essa é a causa do conflito na Palestina. Os judeus, depois de sofrerem os pogroms no Império Russo, as humilhações nos guetos europeus e o genocídio na Alemanha Nazista, buscaram refúgio nas terras Palestinas. E como foram recebidos? Até que bem pelos Otomanos, mas foram rechaçados na Revolta Árabe, na década de 1930, e na guerra de 1948. Não obstante, saíram vencedores (e "aos vencedores as batatas"). Onde estava a compaixão dos Árabes muçulmanos, pela qual hoje legitimamente tanto clamam?
Como se pode ver, entretanto, essa conjuntura onde reina a força apenas gera sofrimento para muitos e realização efêmera para poucos, que, impondo o temor, vivem temerosos de perder o poder. Como apontam Nussbaum e Singer, apenas o amor é capaz de promover o florescimento real de todos.
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