Amor e Paixão

 Aqui vou eu de novo falar de amor.

Os gregos tinham muitas palavras para o amor (Eros, Mania, Ludus, Ágape, Philia, Philos, Storge, Pragma, Xênia, Filautia). C. S. Lewis selecionou quatro (Storge, Philia, Eros e Ágape). Essas palavras significavam sentimentos e/ou atitudes diferentes para situações e relacionamentos distintos.  Então, a gente pode dizer que, basicamente, existem duas dimensões para o amor: sentimento e atitude. E essas dimensões podem se manifestar de infinitos modos, a depender do objeto do amor, que pode ser uma pessoa, um animal, um hobby, etc.  Bell Hooks acreditava que o amor era mais que um sentimento, era uma ação. Sendo assim, falar de amor é falar de atos de amor e, portanto, de decisão. Para falar do sentimento, a gente pode usar a palavra paixão, que também pode ter diferentes objetos e tem de ver não com a vontade, mas com o desejo, o arrebatamento. Tendo conceituado essas duas dimensões, a gente pode falar agora do que vale mais em um relacionamento. Ou melhor, do papel que cada uma desempenha numa relação (com pessoas, atividades, etc.).  O amor é sobre cuidado e conexão. São duas histórias e duas visões de mundo que se unem e decidem compartilhar experiências, carregar o peso da existência e construir um lar. Paixão é sobre desejo, admiração, enfeitiçamento; é o que move de um nível para outro. Amor é reflexão, vontade; paixão é impulso, ímpeto. Em outras palavras, o amor é horizontal e a paixão, vertical.  As pessoas se juntam e ficam por amor e paixão. Esses dois elementos são a base de um relacionamento e não pode ser completo sem nenhum deles. Afinal, somos seres sencientes e racionais. Dito isto, o amor continua sendo o mais vital, pois um relacionamento não pode sobreviver sem ele, mesmo quando a paixão está queimando, pois quando a paixão se apaga, e sempre se apaga, caem as ilusões, mas o amor pode servir de paraquedas e também reacender a paixão e ser a base para saltar. E a paixão, embora por si só nunca possa trazer amor, pode ser o impulso necessário para o salto. O amor continua sendo o mais importante também porque a paixão tem um avesso: o ódio. ("Poi d’amante nemica/ Voi diveniste, ed io/ Volsi in disdegno il giovenil desio"). Se o amor que vemos no mundo pode nos suscitar paixão, a falta de amor que vemos no mundo pode nos suscitar o ódio, que, por sua vez, abafa o amor que temos. Por isso é tão difícil amar o que odiamos. Por isso também “qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”, como disse Guimarães Rosa. 

Amém(os) 



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